- Revoada de maritacas - foto: Luis Carlos Martinelli
Maritacas
Sempre gostei de ouvir o som das maritacas. Em cada cidade que moro a trabalho parece que elas se movem em ritmo diferente, algumas correm para se recolher mais cedo, enquanto outras atrasam cinco a dez minutos. Adoro tentar ver no céu o desenho das maritacas. Em São João del Rey elas acolhiam meu breve sonho no findar cansado das tardes a partilhar Clarice, Euclides e Machado. Aqui em Pequeri escrevo, trabalho e ouço cada vez mais nítidas e agudas as maritacas. George Gachot certa vez tentou filmar o perfume da memória. Eu avassaladoramente, instintivamente, as vezes anarquicamente trago os sons das memórias. Da primeira mais pura e sedenta sucção ao sugar a vida no seio da mãe, matter de vida, adiante com o peito cheio de ar de fantasia. As maritacas são meu perfume de lembranças e sonho de voo.
- Daniela Aragão (3 de maio de 2022)